Foi no comando do “Zapping Zone”, extinto programa do Disney Channel, que Robson Nunes ganhou destaque e marcou uma geração. A imagem do ator e apresentador ficou tão atrelada à atração infantil que, na época, ele chegou a perder papéis em produções para o público adulto – algo que o fez deixar a emissora e se aventurar em novos projetos. “Saí com o coração na mão, porque eu amava fazer o ‘Zapping Zone’ e sempre tive a consciência do que eu representava. Depois do Jairzinho, eu fui o único apresentador infanto-juvenil negro na TV”, comentou o artista em entrevista à Jovem Pan. Robson comandou a atração de 2001 a 2007 e depois focou na carreira de ator, sendo o intérprete de Tim Maia jovem no filme, no documentário e no especial “Por Toda a Minha Vida”. Ele também flertou com a carreira de cantor ao participar dos realities musicais “PopStar” e “Show dos Famosos”, ambos da Globo. Aos 39 anos, o multitalentoso artista retorna ao universo Disney em um desafio inédito na sua carreira. Conciliando canto, dança e interpretação, Robson encara seu primeiro musical, a superprodução “A Pequena Sereia”. Na pele do caranguejo Sebastião, o ator celebrou a representatividade que é ter um ator negro como titular de um dos personagens centrais da clássica história da Disney.
“Quando eu era moleque, já era difícil me ver no palco fazendo um conto de fadas, pensar em ser um príncipe, então, era impensável, literalmente”, comentou o ator, que sente que está abrindo espaço para gerações futuras, já que poderão se imaginar em cena. Na primeira temporada do musical, Sebastião foi vivido pelo cantor Tiago Abravanel, com quem Robson pegou dicas antes de estrear. “Tiago fez maravilhosamente bem, numa outra pegada, e eu tinha medo disso, da comparação”, confessou o artista, que ficou aliviado ao sentir uma boa recepção do público após a estreia do musical, que atualmente está em cartaz no Teatro Santander, em São Paulo. Robson, que por mais de uma década trabalhou no Disney Channel em atrações destinada ao público infantil, não esconde a felicidade de voltar a trabalhar com esse público: “Está sendo uma experiência incrível e estou aprendendo absurdamente com essa galera”. Para o futuro, o ator pretende apostar em mais projetos autorais e adiantou que já escreveu alguns roteiros de curtas-metragens e está preparando um show com músicas que compôs.
Robson, você está retornando ao universo Disney em um musical inspirado em uma clássica animação. Essa é sua primeira experiência no gênero? Sim, é meu primeiro musical. Está sendo uma experiência incrível e estou aprendendo absurdamente com essa galera. E, entrar em um musical desse tamanho… Disney é Disney, né? Eu trabalhei pouco mais de 10 anos no Disney Channel, então eu conheço bem o universo, e estar em um musical desse é muito gratificante, seja pelos profissionais, pela grandeza da estrutura ou pela história, que é conhecida por todo mundo.
E qual o maior desafio de interpretar um personagem que originalmente é uma animação? O Sebastião já é querido pelas crianças e, por incrível que pareça, eu deixei para rever a animação já no final do processo, um pouco antes da estreia, porque eu queria criar uma coisa mais original. A Lynne, que é a diretora do espetáculo, deu espaço para isso, então eu trouxe muita coisa minha, muita coisa que eu imaginava do Sebastião e no fim das contas casou com muita coisa do que é visto na animação, foi muito legal.
Boa parte do espetáculo se passa no fundo do mar. Como foi o trabalho corporal para viver um caranguejo? É um trabalho diário, porque o que eu propus — e depois quase me deu um arrependimento, brincadeira (risos), porque ficou legal o resultado final — andar sempre meio curvado. Deixo os joelhos sempre meio curvados, para dar aquela sensação do caranguejo que anda de lado. E, apesar de ser um caranguejo humanoide, sempre que eu posso, eu deixo a mão na forma de uma garra de caranguejo. Tenho todo esse cuidado.
Você está assumindo o papel que foi do Tiago Abravanel na temporada passada do musical. Teve alguma troca com ele? Sim. Por sorte, eu encontrei o Tiago no casamento de um amigo semanas antes da estreia e a gente bateu uma bola ali. Ele foi na estreia [da atual temporada]. Ainda bem que eu só o vi no final do processo, porque eu ia ficar muito nervoso. Tiago fez maravilhosamente bem o Sebastião, numa outra pegada, e eu tinha medo disso, da comparação. Mas todo mundo entendeu que era um outro Sebastião e estão curtindo também. Tudo que eu pude pegar de dica com o Tiago, eu peguei, ele é um querido.
Com a cobrança do público por mais representatividade e movimentos como o “blind casting” [recrutamento às cegas, em tradução livre], que se intensificou na Broadway com “Hamilton”, você sente que os atores negros estão tendo mais espaço em papéis protagonistas? Eu acho que acendeu a luzinha de atenção, porque a gente tem um longo caminho a percorrer ainda. Agora que os produtores de elenco tomaram consciência da importância da representatividade, que tem um público consumidor gigante, ainda mais falando de Brasil, que a gente representa mais de 50% da população. A gente tem que estar não só no protagonismo das obras, mas também no protagonismo atrás das cortinas, no backstage. Temos técnicos e toda a galera que trabalha para um espetáculo acontecer. A gente tem que ocupar cada vez mais espaços. Acho que isso é um caminho longo ainda, mas as pessoas já estão se atentando a isso. Então, por esse aspecto, é positivo.
Falando em representatividade, qual o peso de ter um ator negro como titular do Sebastião? É muito gratificante saber que eu e também o William Sancar, que é meu stand-in [substituto], somos negros e estamos fazendo esse personagem que é tão carismático e tão emblemático na trama. Sem dúvidas, é uma grande honra. É muito importante a molecadinha se ver ali no palco, não só como Sebastião, mas também como príncipe, que o Gabriel Vicente [intérprete de Eric] está fazendo maravilhosamente bem. A gente quebra estereótipos. Eu lembro que quando eu era moleque, já era difícil me ver no palco fazendo um conto de fadas, pensar em ser um príncipe, então, era impensável, literalmente. Era algo muito distante. Você já anulava várias possibilidades logo de cara. Então, com isso, com certeza se abre um caminho para gerações futuras, para um moleque que está indo assistir ao espetáculo e se encanta. Ele pode se ver em qualquer um daqueles personagens e naquele universo.
Você marcou a infância de muita gente no comando do “Zapping Zone” e a volta de “A Pequena Sereia” vai te aproximar do público infantil. Como está sendo isso hoje, que está com quase 40 anos? É incrível. Eu sempre amei fazer algo destinado a esse público. Quando eu saí do “Zapping Zone” foi porque eu comecei a ficar muito marcado. Eu lembro que eu fiz um teste para um longa metragem que eu queria muito fazer na época e fui bem no teste, só que quando bateu lá na direção, os caras olharam e falaram: “Não, esse cara é a cara da Disney, não dá pra ele fazer um personagem violento”. Senti que era a hora de dar uma pausa naquele momento no universo Disney e até como apresentador. Cheguei a escrever um programa e a dirigir no Disney Channel, mas era muita responsabilidade e acabava deixando outros projetos em segundo plano, então eu decidi sair de vez, mas com o coração na mão, porque eu amava fazer o “Zapping Zone” e sempre tive a consciência do que eu representava. Depois do Jairzinho, eu fui o único apresentador infanto-juvenil negro na TV. Então, sim, eu levantava a bandeira de todas as formas possíveis, fazia questão, por exemplo, de sempre ostentar meu cabelo black. Esse retorno em “A Pequena Sereia” da Disney é quase apoteótico, porque essa estrutura do musical me encanta. Já me peguei várias vezes assistindo ao espetáculo durante a apresentação. Teve um dia que eu estava maravilhado com uma cena, aí vi outro personagem entrar e falei “ih, eu tinha que estar lá também” e saí correndo. Levei bronca da diretora (risos).
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Você já viveu o Tim Maia e já participou das atrações “PopStar” e “Show dos Famosos”. Em todos, teve que soltar a voz. Como é sua relação com a música? A música sempre esteve muito presente na minha vida e de uma forma muito eclética, porque meu pai gosta de Altemar Dutra, Nelson Gonçalves… essas vozes emblemáticas. Minha mãe gostava mais dos sertanejos dos anos 90, como Zezé de Camargo e Luciano. Cresci ouvindo isso, enquanto meus irmãos mais velhos curtiam rock. Com seis anos de idade, eu cantava o Faroeste Caboclo inteiro e eu ouvia o disco do Metallica e do Pearl Jam. Era essa salada em casa. Profissionalmente, além do “PopStar”, do Tim Maia e do “Show dos Famosos”, eu cheguei a fazer um projeto musical que chamava “Ensaiando Tim”, o que eu chamei de um stand-up musical, porque eu contava minha preparação para o filme com piadas entre uma música e outra e fazia os clássicos do Tim Maia. Antes da pandemia, também estreei um projeto que chamava “Robson Nunes é o que sou”, que era só Soul Music, como Jorge Ben, Tim Maia, Farofa Carioca, coisas que eu gosto muito, mas tudo fechou e eu não tive oportunidade de voltar com esse projeto ainda. Mas a música está em tudo na minha vida. Eu amo música.
Você já fez novela, filmes, já foi apresentador e já até trabalhou de dublador. Quais são seus sonhos e planos profissionais futuros? Eu pretendo fazer mais coisas autorais. Eu tenho alguns roteiros que escrevi de curtas-metragens, tenho ideias de espetáculos, então eu pretendo colocar isso em prática. Realizar as coisas que estão na cabeça. Eu tenho um novo show musical também, inclusive com músicas de minha autoria, então eu vou procurar colocar em prática esses também, mas sem negar as outras coisas legais que aparecerem.