Nova York se prepara para voltar a receber nesta segunda-feira, 8, turistas do mundo inteiro, isso porque as fronteiras dos Estados Unidos vão finalmente reabrir após mais de um ano e meio fechadas como medida de combate ao coronavírus. Com o retorno de turistas estrangeiros, a Broadway, que reabriu em setembro deste ano, está na expectativa de voltar a lotar seus icônicos teatros. Conforme a The Broadway League divulgou à Jovem Pan, os turistas representam de 60% a 65% dos espectadores e os brasileiros são responsáveis há anos por grande parte desse público que vem de fora dos Estados Unidos. Foram 18 meses de cortinas fechadas e nunca na história da Broadway os teatros que dominam as intermediações da Times Square ficaram tanto tempo fechados. Esse retorno promete ser caloroso, mas os últimos meses não foram fáceis para os profissionais da área e também para a cidade de Nova York, uma vez que os espetáculos movimentam US$ 14,7 bilhões na economia local todos os anos.
“Ficar sem os teatros foi muito difícil porque quando você pensa em Nova York, você já pensa em um musical. A Broadway retornou recentemente, mas com todas as restrições necessárias, sendo preciso apresentar sua carteirinha de vacinação junto com um documento de identidade, e é necessário estar de máscara, tudo para trazer segurança ao público. Esse retorno foi celebrado pelos nova-iorquinos, pelos empresários do ramo do turismo e pela indústria dos musicais, foi uma conquista muito grande para todos”, comentou Danielle Roman, representante da NYC Company na América do Sul. Os musicais que estão sendo mais visados nesse retorno são “O Rei Leão”, “Hamilton”, “Wicked” e “To Kill a Mockingbird”. Espetáculos com estreias mais recentes como “Hadestown”, “Moulin Rouge”, “Dear Evan Hansen” e “Come From Away” também têm chamado a atenção do público. “Nunca houve um momento mais empolgante para estar na Broadway. A cada semana, um show reabre e, a cada reabertura, a cidade fica muito mais vibrante”, afirmou Bob Hofmann, vice-presidente da Broadway Inbound at Shubert Organization.
Outro sucesso de público é o musical “Chicago”, que este ano completa 25 anos em cartaz na Broadway. O espetáculo é protagonizado pelo ator brasileiro Paulo Szot, que definiu como “assustador” esse período longe dos palcos. “O teatro é essencial. É o nosso sustento. Ficar tanto tempo sem receber nenhum salário afetou gravemente a vida dos artistas, camareiros, técnicos de palco, diretores e todos que dependem do teatro para viver”, disse o ator, que estreou na Broadway em 2008 e é o único brasileiro que já venceu o Tony Awards, prêmio considerado o Oscar do teatro musical. A reabertura de “Chicago” aconteceu no último dia 14 de setembro e Paulo não escondeu sua emoção, pois se sente privilegiado por retornar aos palcos logo nesse primeiro momento da reabertura. “A reação do público foi um impacto para todos nós [do elenco]. Logo nos primeiros segundos, quando o espetáculo começou, os aplausos e gritos de euforia foram tonitruantes e duraram mais de cinco minutos. Isso nos deixou emocionados. Foi inesquecível presenciar a felicidade da plateia por assistir a um espetáculo ao vivo depois de tantos meses sem o teatro presencial.”
Para que esse retorno acontecesse, a Broadway montou um esquema de segurança para preservar todos os profissionais envolvidos. “A associação dos artistas da Broadway, a "Actor"s Equity", juntamente com as autoridades sanitárias governamentais de Nova York, criou o protocolo de medidas de segurança para os teatros e artistas. Tivemos uma palestra antes da reabertura, e existem dois membros da "Equity" diariamente nos bastidores, auxiliando e vistoriando. Fazemos testes rápidos de antígeno duas vezes por semana, usamos máscara o tempo todo nos bastidores e só tiramos no momento em que entramos no palco. Além disso, todos da equipe e do teatro estão vacinados”, contou Paulo.
Mesmo os musicais sendo uma forte indústria nos Estados Unidos, esse “apagão” da Broadway afetou muitos artistas e produções. O musical da Disney “Frozen”, por exemplo, saiu de cartaz nesse período de pandemia, assim como outras produções. O ator brasileiro Eduardo Medaets estava em Nova York na época e, como artista, ele disse que foi difícil ver tantas casas de shows fechadas. “Lembro que passei em frente ao teatro em que "Frozen" estava em cartaz e já estava sem nenhum anúncio do musical. Até o começo deste ano estava assim. Foi uma retirada de chão para todos os atores que estavam lá, mas isso também reforçou o quanto precisamos de arte na nossa vida”, comentou. O artista foi para os Estados Unidos estudar teatro em 2018 e no ano seguinte protagonizou o premiado musical brasileiro “Cargas D"Água”, de Vitor Rocha, que ganhou uma versão em inglês e foi apresentado no circuito Off-Broadway. Tudo caminhava bem, até que o mundo foi surpreendido com a Covid-19. “Quando a pandemia começou, eu ainda não tinha me formado, estava na reta final do curso. A gente ia começar os ensaios para a peça de formatura. Eles postergaram porque acharam que seria algo rápido, mas nunca voltamos. Tivemos que adaptar a peça e apresentamos por Zoom.”
No início de 2020, o ator, que estava prestes a colocar a mão no diploma, já estava participando de testes para os grandes espetáculos da Broadway. “Fiz algumas audições, uma das principais foi para viver o Fiyero, do musical "Wicked", foi uma experiência muito legal”, comentou Eduardo. O problema é que logo os teatros fecharam e ele se viu sem oportunidades. O ator estava sem emprego e, com a alta do dólar, ele decidiu retornar ao Brasil. “Decidi em janeiro desde ano, antes disso estava batalhando para fazer meu sonho acontecer, estava até procurando apartamento, mas eu não tinha perspectiva de trabalho e comecei e me preocupar com o aspecto financeiro, pois precisava me sustentar e comprar comida. Nova York tem um custo de vida caro e o dólar quase dobrou de valor de 2018 para cá.” Eduardo agora está em São Paulo e quer ficar mais próximo do mercado teatral brasileiro por um período, que deve ser curto, já que a reabertura da Broadway reacendeu o desejo do ator de retornar aos Estados Unidos para investir na carreira por lá.