Recupera-se bem uma bebê de 40 dias que foi submetida a uma cirurgia de correção de persistência do canal arterial, procedimento inédito no sul da Bahia. Prematura de 29 semanas e quatro dias, Alice está internada, desde o dia 17 de abril, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Manoel Novaes (HMN), em Itabuna, para ganhar peso, pois nasceu com 1,225 kg, e com problema de canal arterial persistente. Por isso, fora submetida a uma cirurgia de emergência.
Conduzido pelos médicos Sidnei Nardeli, coordenador do Serviço de Cirurgia Cardiovascular da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna (SCMI), e Pablo Namorato, cirurgião cardiovascular pediátrico da SCMI, o procedimento foi feito no dia 27 de maio de 2021, no Centro Cirúrgico do HMN. "Inicialmente, tentamos resolver o problema com medicamentos, mas sem o resultado esperado. Por isso, decidimos pela intervenção e o bebê está apresentando uma evolução muito boa", relata Pablo Namorato.
De acordo com o médico Pablo Namorato, a persistência do canal arterial é necessária para o crescimento do bebê. "Depois do nascimento, esse canal é fechado naturalmente. Quando isso não ocorre, é feito tratamento com medicação. Quando o resultado não é satisfatório, fazemos intervenção cirúrgica. Este foi o caso da nossa paciente, que tinha muita dificuldade para respirar e hoje está bem". Hoje, Alice está com um pouco mais de 1,715kg.
Persistência do canal arterial
O cirurgião cardiovascular Sidnei Nardeli explica que o canal arterial é uma estrutura fetal que existe entre as duas artérias que saem do coração (aorta e pulmonar). "Uma estrutura que todas as pessoas têm aberta e com fluxo, quando estão no útero materno. Quando o bebê nasce, o canal deve fechar. No caso dessa criança, não fechou, o que estava possibilitando a passagem de uma grande quantidade de sangue para o pulmão, podendo causar insuficiência respiratória e outras complicações. Caso não seja cuidado, a longo prazo, essa complicação pode até causar danos irreversíveis. O bebê poderia torna-se um adulto com a qualidade de vida muito ruim", conta.
Sidnei Nardeli detalha que, com esse tipo de patologia, o bebê pode enfrentar uma série de complicações de saúde, porque causa o roubo de fluxo, encharca o pulmão e pode comprometer outros órgãos. "Durante muito tempo, aqui na Bahia, esse tipo de cirurgia era feito em outros centros distantes, como Salvador, mas há dois anos implantamos em Vitória da Conquista, no Hospital IBR, e agora trouxemos esse serviço para Itabuna".
Complexidade e alto risco
O cirurgião cardiovascular destaca que antes esse tipo de cirurgia exigia uma logística complexa. "Para levar essa paciente para Salvador, por exemplo, precisaria de uma UTI área porque é um prematuro extremo, de alto risco. Fazendo esse procedimento na unidade onde ela está internada reduz muito o risco de ter uma complicação no transporte. Além do alto risco no deslocamento, o serviço de transporte é muito caro. São muitas as vantagens com a realização desse tipo de procedimento aqui em Itabuna".
A diretora técnica do Hospital Manoel Novaes, Fabiana Chávez, comemorou o sucesso da primeira cirurgia cardíaca pediátrica no sul da Bahia. "Esse procedimento significa um avanço fantástico na nossa assistência. Pela primeira vez na nossa história realizamos um procedimento desse tipo na nossa região. Essa é uma conquista para ser celebrada por todos, principalmente por ter sido realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS)".
Quem também comemorou muito o sucesso da cirurgia foram o motoboy André Luís de Souza e a estudante Thalia de Oliveira Ferreira, pais da pequena Alice, moradores do bairro Novo Prado, em Itamaraju, no extremo-sul da Bahia.
"A gravidez da minha esposa foi de alto risco e tivemos que esperar o município regular para que ela recebesse o atendimento adequado, a criança aguardou uma semana no Hospital de Itamaraju, em seguida foi transferida para a unidade de referência.