Ex-ministro da Justiça revelou conversa em que Bolsonaro sugere troca na PF por causa de inquérito que investiga aliados. Políticos e representantes do meio jurídico se manifestaram neste sábado (25) sobre as mensagens, reveladas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro, trocadas entre ele e o presidente Jair Bolsonaro e entre ele e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP).
As mensagens foram exibidas por Moro à TV Globo em imagens do celular do ex-ministro. Uma das imagens mostra que o presidente enviou a Moro o link de uma reportagem do site "O Antagonista" segundo a qual a PF está "na cola" de dez a 12 deputados bolsonaristas.
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O presidente, então, escreveu: "Mais um motivo para a troca", se referindo à mudança na direção da Polícia Federal.
Na outra conversa, Zambelli pede que Moro fique no governo e aceite a troca no comando da Polícia Federal (um dos motivos que levaram o ministro a se demitir). Em troca, segundo ela, ele poderia ser nomeado para o Supremo Tribunal Federal (STF). Moro respondeu que não estava "à venda".
Veja a repercussão das mensagens
Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
"As denúncias efetivadas pelo agora ex-ministro Sergio Moro são gravíssimas. Dizem respeito a possível interferência pessoal do presidente da República buscando obstruir investigações que atingiriam aliados e familiares seus. Essas denúncias devem ser aprofundadas, devem ser provadas pelos que declararam, mas, de fato, impõe à sociedade a apuração de possíveis crimes de responsabilidade. E, para isso, a Ordem dos Advogados prepara um parecer que efetivará a análise jurídica dessa questão. Tudo isso em meio a uma crise gravíssima em que o governo e o Brasil deveriam estar exclusivamente voltados à preservação de vida e à economia nacional."
Angelo Coronel (PSD-BA), senador e presidente da CPMI das Fake News
"O ministro Moro apresentou provas contundentes contra o presidente Jair Bolsonaro. São provas que evidentemente o governo do presidente Bolsonaro vai querer descaracterizar, por isso, inclusive, estou convocando o ministro Moro e o delegado Valeixo para o plenário da CPMI eles possam também ter um fórum que eles possam provar mais coisas que aconteceu nos bastidores durante esse período que o ministro Moro era ministro. Eu, a priori, devo confiar nas palavras do ministro Moro, porque ele tem experiência. Ele não iria acusar, não iria disparar contra o governo se não tivesse provas guardadas para poder depois contestar caso o presidente Bolsonaro venha a dizer que ele está mentindo. Então tem muita coisa ainda para acontecer nessa frente. O Congresso Nacional tem que estar ativo, tem de estar de olho aberto para ver quem está errado e punir ou propor punição para aqueles que cometeram algum delito. "
Randolfe Rodrigues (Rede-AP), senador
"As graves relações dos diálogos travados entre a deputada Carla Zambelli, o presidente da República e o ministro Sergio Moro são elementos que nos levam a requerer, no âmbito do inquérito que está instaurado no Supremo Tribunal Federal, a quebra dos sigilos telefônicos e de comunicações tanto do senhor presidente, quanto da deputada. Esses elementos são indispensáveis tanto pro processo de impeahcment que está encmainhado à Câmara dos Deputados, quanto aos processos criminais que estão em curso no Supremo Tribunal Federal."
Fernando Mendes, presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe)
"Se essas conversas vão caracterizar algum tipo de interferência política efetiva a ponto de justificar uma responsabilização do ponto de vista penal, que seria um crime comum, ou mesmo do ponto de vista político, num eventualmente processo de impeachment, vai depender de como isso for devidamente apurado, esclarecido no âmbito do inquérito que já foi instaurado no Supremo Tribunal Federal. Então, são elementos de prova que agora estão sob apuração, a cargo do ministro Celso de Melo, e é dentro desse inquérito que vai ter que ser feita uma valorização, tanto do ponto de vista jurídico, se esses elementos são suficientes para caracterizar algum tipo de responsabilidade, quer no âmbito penal, quer no âmbito político. O que nós temos que defender sempre, e isso é um pressuposto, é que não possa haver interferências políticas na autonomia da Polícia Federal. É isso que todos nós queremos."
Carlos Sampaio (SP), líder do PSDB na Câmara
"O presidente da República , quando tentou desqualificar essas denúncias, ficou demonstrado, pelas mensagens trocadas entre o ex-juiz Sergio Moro e o presidente e também entre Sergio Moro e a deputada Carla Zambelli, que restaram evidenciadas que as afirmações feitas pelo presidente não tinham a menor pertinência. Ou seja, ele tentou, sim, interferir nas investigações da Polícia Federal , e em momento algum o ex-juiz Sergio Moro negociou o Supremo para aceitar a troca do ex-diretor-geral da Polícia Federal."
Senador Major Olímpio (SP), líder do PSL no Senado
"É a tempestado perfeita. Moro mostra conversas dele com o presidente Jair Bolsonaro pelo whatsapp em que Bolsonaro pedia providência sobre inquéritos da PF. E uma deputada aparentemente sem nenhuma condição de decisão discutindo com o ministro sobre eventual nomeação no STF. É tudo que o Brasil não precisa neste momento.
Paulo Jeronimo Sousa, presidente da Associação Brasileira de Imprensa
"Nos acontecimentos relacionados à exoneração de Moro, caracterizando tentativa do presidente de usar a PF para seus interesses pessoais torna seu comportamento ainda mais grave e sua permanência no cargo ainda mais insustentável. Diante disso, a ABI resolveu agilizar os procedimentos para ingressar imediatamente um pedido de impeachment do presidente da República."
Fábio Munhoz, diretor de Comunicação da Associação Paulista de Magistrados
"Pelo que se tem notícia, foi pedida a abertura de um inquérito policial. a partir do momento em que é determinada a abertura de inquérito policial, vão ser coletadas as provas para comprovar determinado fato criminoso e, possivelmente, quem foi o seu autor. como se tem noticia de que haveria prática de crime por parte de um ou de outro, as partes envolvidas muitas vezes tomam a dianteira e já apresentam à autoridade policial ou à autoridade que vai presidir o inquérito policial para apresentar as provas que dispõe, até para comprovar as suas alegações. na medida em que isso é certo, que já há instaura'ão de inquérito policial, nada impede que as partes envolvidas já levem ao conhecimento de quem de direito, aí no caso o supremo tribunal federal as provas que dispõem. e neste caso são muitas vezes extratos de conversa, áudio de whatsapp, print de tela. o Supremo Tribunal Federal tem precedentes autorizando esse tipo de prova como absolutamente válida."
Júlio Delgado (PSB-MG), deputado federal
"No final do dia, o Jornal Nacional traz a deputada Carla Zambelli cometendo quebra de ética e decoro parlamentar, que vai ter que ser investigado. E também uma própria conversa do presidente com o ministro Moro, quando ele tenta claramente interferir nas ações do diretor e na troca do mesmo na Polícia Federal."