A menos de um ano para as eleições municipais de 2024, ainda há pendências importantes a serem resolvidas nas candidaturas em São Paulo e Rio de Janeiro, duas das principais capitais do Brasil. Em ambas, os atuais prefeitos, Ricardo Nunes (MDB) e Eduardo Paes (PSD), respectivamente, vão tentar a reeleição. No entanto, os políticos enfrentam cenários bem diferentes. Na maior cidade da América Latina, Nunes, que assumiu o cargo em 2021 após a morte de Bruno Covas (PSDB), vencedor das eleições de 2020, tem a missão de consolidar apoios à direita, como do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para conseguir se reeleger, enquanto seus principais opositores, os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) têm acumulado cabos eleitorais de peso, que vão desde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao lado de Boulos, ao apresentador José Luiz Datena, que deve ser o vice de Tabata. Um dos nós a ser desatados é a definição dos vices. Por ter desistido da candidatura de Ricardo Salles (PL-SP) à Prefeitura de São Paulo e ter anunciado o apoio a Nunes, o PL deve emplacar o vice na chapa do emedebista. Enquanto uma ala do partido defende um nome mais ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, também como forma de acenar à “direita raiz”, líderes da sigla defendem a indicação de uma mulher ao cargo. O PT, por sua vez, não terá candidato na capital pela primeira vez na história, a fim de cumprir um acordo selado com Boulos ainda em 2022. Resta saber quem o partido de Lula indiciará para o cargo de vice – nos últimos dias, o nome da ex-prefeita Marta Suplicy se tornou o favorito.
Enquanto isso, na disputa pela Prefeitura fluminense, Eduardo Paes, que também conta com o apoio do presidente Lula, larga na frente enquanto seus opositores, à direita e à esquerda, ainda tentam, sem muito alarde, emplacar nomes de parlamentares como Alexandre Ramagem (PL), Dr. Luizinho (PP), Otoni de Paula (MDB) e Tarcísio Motta (PSOL). O primeiro turno das eleições municipais será realizado em 6 de outubro de 2024. O segundo turno, caso necessário, deve acontecer em 27 de outubro. Confira abaixo um resumo feito pelo site da Jovem Pan a respeito da disputa em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Na capital paulista, os cabeças de chapa já estão praticamente definidos para as eleições municipais de 2024. Além do atual prefeito, Ricardo Nunes, despontam também os deputados Guilherme Boulos e Tabata Amaral como principais apostas dos partidos para assumirem o comando da Prefeitura de São Paulo. Em segundo plano, Kim Kataguiri (União Brasil) e Marina Helena (Novo) também estão no páreo. Neste contexto, uma série de especulações sobre quem seriam os vices desta disputa tem se dado nos bastidores, já que esta eleição tem tudo para ser a mais disputada dos últimos anos na capital paulista. A principal dúvida, mais uma vez, fica por conta da participação do jornalista e apresentador José Luiz Datena na disputa. O comunicador, que já ensaiou participar de uma eleição por cinco vezes, se filiou ao PSB (seu décimo partido) na intenção de disputar a Prefeitura ao lado de Tabata Amaral. Nome considerado forte nas camadas mais populares, Datena veio para o partido com as bênçãos do ministro do Empreendedorismo, Márcio França, e do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin. “É preciso que a pessoa tenha credibilidade para poder assumir esse papel (…) Você fica em uma disputa polarizada e o terceiro quarto e quinto candidato acabam não sendo conhecidos o suficiente para entrarem na disputa realmente. Com a presença do Datena, essa hipótese não existe, porque ele é o próprio conhecimento”, declarou França durante o evento de filiação de Datena ao PSB. A legenda aposta que o apresentador deve impulsionar a candidatura de Tabata, que ainda segue afastada dos dois principais concorrentes da disputa, Boulos e Nunes.
Na chapa de Boulos, cabe ao Partido dos Trabalhadores, que não lança candidato próprio pela primeira vez na história, definir quem será a vice de Boulos na disputa. O PSOL apenas exige que uma mulher ocupe o posto. Mais recentemente, o nome de Marta Suplicy (Sem Partido) tem sido sondado. Nos bastidores, a ex-prefeita seria a escolha prioritária do presidente Lula, que articula sua vinda para o partido após o rompimento de Marta em 2015. “Tem grandes nomes colocados que podem ocupar esse papel de companheiro ou companheira de chapa. Mas nós decidimos em conjunto entre os partidos que estão compondo a nossa frente, já são cinco partidos, PSOL, PT, PC do B, Rede e PV, que essa definição só vai ser tomada em 2024”, disse Boulos em outubro. Apesar da definição só vir no ano que vem, o nome de Marta tem despontado dentro do PT, com grandes nomes do partido fazendo acenos à política que comandou a capital paulista entre 2001 e 2004.
“Ela [Marta], quando foi prefeita, deixou marcas profundas na cidade de São Paulo. Eu tive o privilégio de ser secretário dela, das Subprefeituras e de Transportes. Foi na gestão dela que implantamos as faixas exclusivas de ônibus, o Bilhete Único e os CEUs. Evidente que ela foi embora, mas deixou saudade. Sempre é bem vinda, se ela quiser voltar para o PT, o PT recebe de braços abertos”, afirmou o deputado federal Jilmar Tatto, em entrevista à Jovem Pan News. Apesar de contar com o apoio de grandes nomes do partido, Marta sofre resistência da base petista, que vê com maus olhos o retorno ao partido de uma das figuras que apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Além disso, atualmente ela é secretária de Relações Internacionais da gestão de Nunes, cargo que assumiu em janeiro de 2021, nomeada pelo então prefeito Bruno Covas. Por isso, caso Marta de fato resolva concorrer, ela deve abandonar o cargo e se voltar contra o governo que ajudou a construir nos últimos três anos. Paralelamente, os nomes da vereadora Juliana Cardoso e de Ana Estela Haddad também são sondados como possíveis indicações para compor a chapa.
Em busca da reeleição, Nunes tem negociado uma ampla aliança junto com os partidos que compuseram a coligação do PSDB em 2022 para viabilizar sua candidatura à reeleição. Entre os principais apoios, estão o do Republicanos, partido do atual governador paulista, Tarcísio de Freitas, e do Partido Liberal (PL), legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, solidificar estes dois cabos eleitorais tem sido missão complicada para Nunes. Recentemente, Tarcísio disse que seu apoio na capital estava condicionado ao de Bolsonaro. O ex-presidente estava resistente a embarcar na candidatura do atual prefeito e articulava nos bastidores a candidatura do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Apesar disso, como apurou a Jovem Pan News, Jair Bolsonaro deve mesmo apoiar o atual prefeito de São Paulo nas eleições municipais de 2024. A informação foi confirmada por Fábio Wajngarten, que comandou a Secretaria de Comunicação Social (Secom) na gestão Bolsonaro e é um dos advogados do ex-chefe do Executivo Federal. Caso isso se confirme na prática, o PL deve ter preferência na indicação do vice de Nunes. O prefeito já indicou que PP, União Brasil e Podemos também têm interesse no cargo, mas o apoio de Bolsonaro no pleito pesa na escolha de qual legenda ficará com a posição de vice, que deve ser definida só em 2024. Progressistas, Solidariedade e PSD também já manifestaram apoio à reeleição do atual prefeito.
Como o site da Jovem Pan mostrou, no levantamento feito em dezembro pelo Instituto Paraná Pesquisas, Guilherme Boulos aparece numericamente na liderança no primeiro turno, mas há um cenário de empate técnico com o prefeito Ricardo Nunes no segundo turno. Na pesquisa estimulada, quando o entrevistado tem acesso aos possíveis nomes da eleição, Boulos tem 31,1% das intenções de voto no primeiro turno, 5,7 pontos percentuais à frente de Ricardo Nunes, com 25,4%. Tabata aparece em terceiro lugar, com 8,9%, seguida por Ricardo Salles com 8,3%, Kim Kataguiri (5,4%) e Maria Helena (3,1%). Para o segundo turno, a pesquisa aponta para um empate entre Boulos e Nunes com vantagem para o prefeito da capital, que pontuou 41,3%, contra 39,8% do pré-candidato do PSOL. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais para mais ou para menos.
Se a disputa em São Paulo já se mostra praticamente encaminhada e a campanha começa mesmo antes da eleição, no Rio de Janeiro os principais nomes para disputarem o pleito contra Eduardo Paes (PSD) ainda buscam se consolidar. O atual prefeito é o franco favorito para vencer as eleições municipais e conquistar seu quarto mandato, segundo aponta o levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, divulgado em novembro. No cenário estimulado, quando os entrevistados escolhem entre as alternativas apresentadas, Paes lidera com 44,4% das intenções de voto. Seu concorrente mais próximo é o deputado federal delegado Alexandre Ramagem, com 9,6% das intenções. O parlamentar desponta como favorito da direita para o embate com Paes, já que o principal cotado, general Walter Braga Netto, apadrinhado do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O militar, que foi interventor na segurança do Rio, era o nome visto como ideal no PL, que mantém a intenção de lançar um nome próprio para concorrer com Paes. Neste contexto, Ramagem, que é egresso da Polícia Federal e encampa a pauta da segurança pública no Congresso Nacional, passou a ser uma escolha endossada por Bolsonaro e também pelo presidente da sigla, Valdemar Costa Neto. Para compor a chapa com o deputado, o governador Claudio Castro (PL) já admitiu apoiar o nome do deputado federal e ex-secretário de Saúde, Dr. Luizinho (PP), que já foi sondado pelo mandatário anteriormente para ser o cabeça de chapa, e do também deputado e ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello (PL). Em coletiva com jornalistas, o governador do Rio de Janeiro antecipou que não deve haver uma chapa “puro sangue” do PL nas eleições municipais: “A ideia é que esse nome passe pelo crivo desse grande conselho político, que são os partidos que compõem a minha base, que a gente ache esse nome de consenso. óbvio que todo mundo vai querer, mas só tem uma vaga e ela não será do PL, será de outro partido”. Em segundo plano, outros pré-candidatos também pretendem se lançar como uma opção de direita contra Eduardo Paes, como o vereador carioca Pedro Duarte (Novo) e o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), que afirmou à Jovem Pan News que se prepara para “a eleição municipal mais contaminada pela pauta nacional na história”.
A análise do pré-candidato emedebista faz sentido, já que Bolsonaro foi determinante para a indicação de Ramagem e, no campo político da esquerda, o apoio explicito do presidente Lula à candidatura de Paes inviabiliza a possibilidade de uma candidatura petista ao pleito e enfraquece qualquer iniciativa por parte do PSOL, que já chegou ao segundo turno da disputa em 2016, quando Marcelo Freixo conquistou 40,6% dos votos, melhor resultado da legenda na capital fluminenses até então. Nos bastidores, o vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, já trabalha com um cenário de filiação do advogado Felipe Santa Cruz (PSD), atual secretário municipal de Governo na gestão de Paes, para que ele seja o vice do atual prefeito na disputa. Santa Cruz já concorreu a vereador pelo PT e pode ser um nome que torne a chapa do atual prefeito mais palatável para eleitores de esquerda, já que o advogado foi forte opositor de Bolsonaro enqaunto presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Paes também negocia o apoio do PSB em sua reeleição. No caso, a aliança estaria condicionada a um futuro apoio a Alessandro Molon em sua candidatura para o Senado Federal em 2026. Com isso, o atual prefeito busca agregar a base governista em torno de sua candidatura. Tal movimentação isola partidos como o PSOL e o PC do B, que pretendem lançar candidaturas próprias, mas provavelmente sem o apoio de outros partidos. A chapa psolista será encabeçada pelo deputado federal Tarcísio Motta, que já foi candidato ao governo do Rio de Janeiro em 2014 e 2018 e ocupou o cargo de vereador da capital fluminense entre 2016 e 2022. Já o PC do B aposta no nome da deputada estadual Dani Balbi que, em 2023, se tornou a primeira mulher transexual a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.