Poucas vozes foram tão marcantes e impactantes na cultura brasileira quanto a de Gal Costa. A baiana, que deu vida à Tropicália e morreu em novembro de 2022, recebeu nesta semana uma nova homenagem: o filme “Meu nome é Gal”, estrelado por Sophie Charlotte. Mas como, então, representar algo tão único como um canto, que já foi comparado a um cristal e ao veludo? A resposta das diretoras do longa, Lô Politi e Dandara Ferreira, em entrevista exclusiva à Jovem Pan, pode surpreender àqueles que não conhecem a atriz escolhida para protagonizar a cinebiografia: “No começo, a gente achava que ia ser a Sophie cantando todas as músicas, porque ela estava entregando muito”, conta Lô, que ainda completa: “Tem uma coisa muito importante, que é o fato de a Sophie já começar o filme cantando, e ela começa cantando maravilhosamente bem. A partir daí, a gente já estabelece a base e pode relaxar e contar a história do jeito que for melhor para o filme, já que a gente pode trazer a Gal em momentos icônicos e importantes, ter a Gal, em momentos nos quais as pessoas querem a Gal. Então, no fim, acabou virando uma costura bonita, sutil”.
Essa costura se dá porque, em momentos chave da história, a narrativa faz uso das gravações originais da cantora, como nos momentos em estúdio. Dandara revela que a decisão acabou se tornando natural para os momentos: “Foi mais o registro, na questão do fonograma que entrou a Gal. A gente achou que tinha necessidade ali, porque no fonograma as pessoas já têm essa memória afetiva muito forte. A gente está falando de uma artista da grandeza de Gal, todo mundo já ouviu. E, depois da partida dela, a gente achou que era uma forma de homenagem. As pessoas queriam ouvir Gal, e a gente queria ter mais a presença dela ali”. “Mas a gente não filmou pensando nisso, e eu vou te dizer que a Sophie, de 16 músicas, ela canta umas 13”, relembra Politi.
O trio se mostra alinhado em todas as decisões, inclusive na escolha do recorte da vida de Gal escolhido para ser retratado no longa: de meados dos anos 1960 até a década de 70. “A gente está contando a história a partir de um recorte de um dos momentos mais importantes do país; depois da semana de 22, o principal acontecimento cultural do país é a Tropicália”, destacou Dandara. “E, querendo ou não, tem uma juventude que não a conhece tanto. O filme é um registro, não é ‘uma história da Tropicália’, mas acho que é um pontapé inicial para uma juventude se aproximar disso, conhecer um pouco mais, ter uma relação, não só com Gal, mas com todos os parceiros que estavam ali representados e, principalmente, a importância dessa construção, dessa amizade. E entender que, a gente está falando de Gal, mas existe um recorte histórico e político importante dado no filme, também, que foi vital para o que acontecer, senão, não existiria Tropicália.”
Ao fim da entrevista Sophie fez questão de ressaltar, ainda mais, a importância desses artistas e do movimento que criaram para o cenário cultural brasileiro: “É importante reafirmar a importância da resistência desses artistas maravilhosos, no momento mais obscuro da nossa história moderna. Eles resistiram à ditadura militar, que foi tenebrosa, e conseguiram fincar bandeiras de liberdade, de alegria, de amor e de brasilidade em um momento de repressão, para que isso nunca mais se repita. O nosso filme também serve para mostrar que isso aconteceu e que eles resistiram.”