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Exemplo de vida

Juíza da Bahia que foi boia-fria e doméstica tem história contada no programa do Faustão


Foto: Divulgação


Exemplo de inspiração e superação, a história da juíza Antônia Faleiros, 60 anos, titular da 1ª Vara Criminal de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, foi contada no programa Faustão na Band. No relato, a magistrada contou a trajetória de vida para estudar e sobreviver às adversidades.

Mais velha de seis irmãos, aos 12 anos começou a trabalhar no corte de cana na comunidade de Barro Amarelo, em Serra Azul de Minas (MG), sua cidade natal. O trabalho como "boia-fria" foi a única oportunidade que surgiu para a menina que tinha acabado de cursar a 4ª série do ensino fundamental.

"Terminei a 4ª série e fiquei sem estudar, não tinha a 5ª série na minha cidade, Serra Azul de Minas. Então, quem podia ia para as cidades vizinhas, internato, cidade maior, quem não tinha essa condição ficava sem estudar e aí surgiu essa oportunidade de trabalhar. Foi uma experiência bastante marcante e bastante pesada, carrego nas costas ainda algumas marcas de ferimentos que demoraram a cicatrizar", lembrou no programa que foi ao ar na última terça-feira (13).

Um ano depois, o município passou a ofertar a 5ª série e incentivada pela mãe voltou a estudar. Decidida de que a educação poderia mudar a sua vida, se mudou para Belo Horizonte, onde cursou o magistério. No entanto, para bancar a mensalidade e estadia na capital mineira, Antônia trabalhou como faxineira na escola.

Até ser aprovada no concurso de Oficial de Justiça do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), ela precisou trabalhar como doméstica e até dormir nas ruas de Belo Horizonte. Para ser aprovada no concurso, que exigia conhecimento básico de Direito, Antônia Faleiros estudou com folhas de apostilas borradas por mimeógrafos de um cursinho preparatório que eram descartadas no lixo. Ela percebia que dava para ler as folhas amassadas, decorava o que lia, e assim, foi aprovada no certame em 3º lugar. Durante a entrevista, ela conta que a rigidez de sua mãe com os estudos era tanta que a questionou se a prova estava tão difícil para não ter passado em primeiro lugar e a deixou uma lição: "Corredor olha para frente".

Já atuando no TJ-MG, com o salário que recebia ainda não conseguia se sustentar totalmente, por ainda ajudar a família no interior. Daí, ela foi incentivada por magistrados a cursar a Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) por ter um restaurante universitário que a permitiria se alimentar melhor até os finais de semana. Antônia diz que mais uma vez foi a necessidade passando à frente da vocação.

"Minha vida era bem apertada, o orçamento era bem curtinho e no final de semana eu não tinha aonde almoçar. E aí, o desembargador, eu me recordo, me disse: "olha, a Faculdade de Direito é próxima do tribunal e tem bandejão, tem alimentação inclusive aos finais de semana". Então, eu acabei optando por Direito pelo bandejão. E havia duas Faculdades de Direito em Belo Horizonte naquela época, ou era a católica, que era particular, ou era a federal, e o vestibular era um funil absurdo, ainda é muito difícil acessar para todos os pobres, pretos e periféricos", contou.

Logo depois de formada, advogou por alguns anos e prestava concursos públicos. Em 2002, ela foi aprovada no concurso de juiz substituto do Tribunal de Justiça da Bahia. Ela atua em Lauro de Freitas há 10 anos.

Ao olhar a sua trajetória, Antônia Faleiros diz que encara a sua missão com responsabilidade. "Compromisso, responsabilidade e isso pra mim é questão de honra, de saber que foi difícil pra mim, mas que eu tive mãos que me apoiaram e que se eu puder ser essa mão que apoia outras pessoas, eu terei cumprido o meu papel. e isso não é discurso", afirmou.

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