O futebol brasileiro foi fortemente impactado com os novos desdobramentos da Operação Penalidade Máxima, deflagrada pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), que apura manipulação de jogos da Série A e B do Brasileirão 2022, além de partidas de campeonatos estaduais deste ano. Somente nesta semana, Santos, Athletico-PR, Fluminense e outros importantes times afastaram jogadores que são suspeitos de terem participado do escândalo que visava o lucro com apostas esportivas. Até o momento, sete jogadores viraram réus, sendo o zagueiro santista Eduardo Bauermann o mais conhecido entre os amantes do mundo da bola. A investigação, porém, já obteve conversas de integrantes da quadrilha que citaram dezenas de atletas, como Maurício (Internacional), Alef Manga (Coritiba) e outros. Segundo a apuração, os futebolistas recebiam uma quantia de R$ 40 mil a R$ 100 mil para cometer determinados atos em campo, como receber cartões amarelos e/ou vermelhos, além de conceder escanteios. Apesar de ganhar repercussão nacional e internacional, causando perplexidade nos amantes do futebol, o escândalo não é o primeiro da história do esporte. Abaixo, relembre alguns casos parecidos ou até mais graves.
O escândalo mais marcante do futebol brasileiro ocorreu em 2005 e foi denominado pela imprensa como “Máfia do Apito”. Em setembro daquele ano, a revista “Veja” revelou que os árbitros Edilson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon estavam manipulando resultados de partidas dos principais torneios nacionais para ajudar apostadores a lucrarem com os placares encomendados. O empresário Nagib Fayad, conhecido como “Gibão”, foi considerado pelos investigadores o elo entre as partes. Conforme a apuração, foi revelado que os juízes recebiam R$ 10 mil por jogo fraudado. Para evitar que o Brasileirão terminasse “manchado”, o Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) anulou os 11 confrontos apitados por Edilson. O principal beneficiado foi o Corinthians, que pôde enfrentar novamente os rivais Santos e São Paulo. Derrotado nos clássicos, o Timão conseguiu vencer o Peixe e empatou com o Tricolor, obtendo quatro pontos a mais. No fim, o Alvinegro terminou como campeão daquela edição, com três pontos à frente do segundo colocado Internacional. Caso os placares originais tivessem sido mantidos, os gaúchos teriam vencido o Nacional com um ponto a mais do que os paulistas. Banidos do futebol, Edilson e Danelon foram denunciados pelo Ministério Público por estelionato, formação de quadrilha e falsidade ideológica. A ação penal foi suspensa em 2007 por ordem do desembargador Fernando Miranda, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Em agosto de 2009, o mesmo desembargador e outros dois colegas encerraram o processo, entendendo que os fatos apurados não configuraram crime.
Partidas anuladas:
Partidas remarcadas:
O primeiro grande caso de manipulação de resultados na Itália ocorreu em 1980. Chamado de “Totonero”, o episódio envolveu times da elite e da segunda divisão, sendo descoberto pela Guardia di Finanza (Guarda de Finaças) após a declaração de dois comerciantes romanos. No esquema, alguns jogadores e até dirigentes “vendiam” as partidas de futebol por dinheiro, com a finalidade de beneficiar apostadores. Milan e Lazio foram os clubes que receberam penas mais severas e foram rebaixados Avellino, Bologna, Perugia, Palermo e Taranto começaram o campeonato de 80-81 com cinco pontos a menos. Entre os jogadores, as sanções esportivas também foram pesadas. Enrico Albertosi, goleiro da seleção italiana na Copa de 1970, e o atacante Massimo Cacciatori, da Lazio, foram banidos do esporte. Outros 18 atletas também foram punidos, entre eles o craque Paolo Rossi, suspenso por três anos. Com a aproximação do Mundial de 1982, a pena do atacante acabou sendo reduzida para dois anos. No torneio da Fifa, o astro brilhou, foi carrasco do Brasil e principal nome do tri da Azzurra. Depois do escândalo, a Federação Italiana abriu o mercado para estrangeiros, fortalecendo o torneio nacional com grandes craques mundiais.
Tratado como o principal esquema de corrupção do futebol italiano, o Calciopoli foi investigado de 2004 a 2006. Basicamente, o escândalo se sustentava pelo seguinte: dirigentes de grandes clubes, por meio de telefonemas e relacionamento constante com a chefia de arbitragem, obtinham informações privilegiadas sobre quais árbitros seriam escalados e também combinavam como seriam suas atuações. Interferiam em lances capitais, como impedimentos, anulação de gols ou distribuição de cartões. Assim como no Totonero, o episódio rendeu punições esportivas pesadas aos envolvidos. A Juventus, sem dúvida, foi quem mais sofreu. Além de perder os títulos de 2004-05 (não atribuído a outro clube) e 2005-06 (repassado à Internazionale), a Velha Senhora foi rebaixada para a segunda divisão. Mais do que isso, o time de Turim começou a Série B com menos 17 pontos. Milan, Lazio, Fiorentina, Arezzo e Reggina foram outros clubes punidos, seja com perda de pontos e/ou multas. Ao todo, 13 cartolas e 2 juízes também foram suspensos, mas ninguém foi preso.
Os crimes de fraude e corrupção não atingiram somente o futebol. Na NBA, a principal liga de basquete do mundo, um caso também ganhou muita repercussão. Árbitro do campeonato norte-americano entre 1994 a 2007, Tim Donaghy foi banido do esporte após uma investigação confirmar que ele estava apostando nos jogos em que trabalhava. Como resultado, além de perder o cargo na NBA, o juiz estadunidense ficou 15 meses na prisão. O episódio foi tão emblemático que virou série na Netflix.
Na primeira metade dos anos 1990, o armador Stevin “Hedake” Smith despontava como principal jogador da Arizona State University, uma equipe em ascensão no basquete universitário dos Estados Unidos. Smith, no entanto, devia ao agenciador de apostas Benny Silman e foi presa fácil quando este lhe propôs atuar de acordo com os interesses de apostadores. “Eu era o armador, estava no controle. Eu tinha várias técnicas. Dá para enrolar com a bola para ganhar tempo. Atrasar o ataque… Eu sabia criar situações para o que os jogadores não marcassem pontos”, revelou Hedake em documentário da Netflix. Ele e seu companheiro Isaac Burton foram presos em 1997 e ficaram reclusos por um ano e um dia.
Virou best-seller o caso que quase arruinou o basquete universitário dos Estados Unidos. Ao menos 32 jogadores de sete universidades admitiram participar de um esquema de manipulação de resultados para beneficiar apostadores. A maioria era da CCNY (City College of New York), principal equipe da época. O escândalo foi descoberto quando Junius Kellogg, da Universidade de Manhattam, recusou uma proposta dos aliciadores e levou o caso à polícia. O livro “Scandal of 51: How the Gamblers Almost Killed College Basketball” (Escândalo de 51: Como os Apostadores Quase Mataram o Basquete Universitário, em tradução livre) ainda não foi publicado no Brasil.